quarta-feira, agosto 09, 2006

Cortinas de fumo

Normalmente gosto de "chatear" os membros das minhas listas de correio electrónico, colocando como assinatura, em rodapé, frases relativas às minhas duas "guerras" pessoais: A Microsoft e o maldito tabaco. A mais recente destas frases é a seguinte:

"Uma das piores enfermidades da sociedade moderna
é o tabagismo. A nicotina é uma verdadeira droga que
as tabaqueiras utilizam para TE extorquir dinheiro
à custa da NOSSA saúde. Deixa de fumar!"


Esporadicamente recebo respostas, não às mensagens em si, mas à assinatura propriamente dita. A última resposta que recebi foi a seguinte:

"110% de acordo...
Mas...
O trabalho infantil é bem pior e não vejo ninguém com tanto empenho para resolver este problema. À claro!! não prejudica terceiros, aliás eles até só dão lucro... e morrem prematuramente... mas são eles que morrem e claro não matam terceiros..."


Relativamente a este tipo de resposta, ao qual já estou habituado, o objectivo é cada vez mais transparente. Os defensores da causa dos fumadores, não tendo argumentos decentes para defender uma causa indefensável, utilizam a táctica da "cortina de fumo", isto é, tentam desviar o assunto para outro qualquer problema, grave ou não, de forma a afastar a discussão da temática do tabaco. Para os defensores desta causa, parece que enquanto existirem outros problemas no mundo não se pode discutir, ou alterar o status quo, do problema do tabaco. (Será que... se o tabaco fosse o último e único problema do mundo, os fumadores deixavam todos, e espontâneamente, de fumar? Não acredito...)

Já ouvi de tudo como argumentos de "cortina de fumo". O problema dos aparelhos de ar condicionado, a poluição automóvel, as drogas duras, o alcoól, as guerras. E agora acrescento a esta lista o trabalho infantil.

Mas o que pensam estas pessoas? Que não me importo com os restantes problemas do mundo? Que sou insensível a tudo o resto e só me aborreço com o maldito tabaco? Pensem novamente!!! Detesto guerras sob qualquer pretexto, guerras santas incluídas! Detesto a morte de inocentes! Sou contra a pena de morte, a escravatura, o tráfico de pessoas, o racismo, a intolerância sexual e religiosa, as touradas, qualquer atentado pontual ou continuado contra os ecossistemas mundiais e claro o trabalho infantil e a utilização de crianças em guerras. As crianças precisam de educação e brinquedos, não de granadas e metralhadoras. E numa escala menor também detesto a poluição automóvel, a corrupção dos governos mundiais, as tácticas comerciais ilegais (e não punidas) da Microsoft, entre outras injustiças deste nosso planeta.

No entanto, contrariamente à resposta que obtive, existem organizações mundiais (ONG) a lutar com empenho para resolver estes e outros problemas. Depois de uma rápida pesquisa na Internet deparei-me com a seguinte amostra:



Confiando que estas organizações estão muito mais habilitadas do que eu para lutar contra os problemas aos quais se dedicam, reservo-me o direito de escolha das minhas próprias insignificantes "batalhas" por comparação. Neste sentido, opto por criticar injustiças que estão presentes no meu quotidiano e com as quais tenho mais contacto e experiência.

Não me esquivo a uma discussão séria sobre tabaco. Mas se os defensores desta causa querem discutir sobre este assunto... que argumentem de forma válida e parem de nos atirar areia para os olhos.

Se vamos falar de tabaco, falemos de tabaco! Deixemos de lado os aparelhos de ar condicionado...

1 comentário:

Anónimo disse...

Não pude ler sem deixar de "meter o garfo".

Apesar de ser fumador, apoio completamente a luta de anti-tabagismo. Eu mesmo, falando com os jovens que conheço, aponto os exemplos dos malefícios do tabaco falando na primeira pessoa e travo neste momento a luta para ver se deixo o maldito vício.

Entristece-me no entanto de ver que a luta que se trava actualmente é muita das vezes anti-fumador e não anti-tabagica, sofrendo a maioria das vezes o fumador de uma nova doença social (seja o fumador alguem que não respeita os outros, seja alguém que tem o cuidado de apagar o cigarro quando vê que está a incomodar ou de não o acender quando se apercebe que não deve).

Penso que se deve lutar por locais de trabalho sem fumo, por salas de jantar sem fumo, por convívio sem fumo. Acredito piamente numa vida sem fumo. Acredito por outro lado nos princípios do respeito humano, do direito de não ser um leproso no meio de uma sociedade saudável e não fumadora e sinto-me já desgastado pela carga que venho sofrendo mesmo estando a acompanhar a luta dos que não me compreendem.

Vamos lutar conta essa praga que são as chaminés, não pela falta de respeito ou pela intolerância mas fazendo caminho juntos e de modo tolerante, porque estas não trazem bem nenhum a ninguém.

Cumprimentos,
Paulo Pinto